sexta-feira, 17 de setembro de 2010

Uma escolha errada


     Eu era feliz ao lado de Mare. Ela era a única que me fazia feliz, era a única que conseguia me acalmar, que conseguia me fazer sentir-se em um mundo onde nada poderia dar errado, mas nada na vida é fácil e quando acontece algo, devemos superar e seguir nossas vidas em frente.
      Faziam 3 anos que Mare e eu estávamos juntos. Foram os 3 anos de casado mais felizes da minha vida toda. Mare estava grávida de 9 meses.
      Eu fazia parte de uma banda. Eu adorava tocar guitarra no shows, mostrar a todos que eu existia, que eu era muito mais do que as pessoas achavam que eu fosse. Eu mostrava toda minha habilidade em minha guitarra na frente de todos aqueles que iam para assistir nosso show. Nossa banda estava seguindo o caminho da fama, mas todos nós, integrantes da banda, queríamos mais e mais, queríamos ser melhores, mais habilidosos, queríamos alcançar a fama mais rápido que o normal e isso não foi bom para nós, mas nós sempre percebemos que erramos quando já é tarde de mais.
      A banda foi convidada para participar de uma festa. Essa festa seria uma ótima chance para que conseguíssemos assinar um contrato com um promoter de shows. Ficamos muito agitados, nervosos, mas no final tudo deu certo e conseguimos assinar o contrato. Pelo menos achávamos que estava tudo certo.
     Ele só conseguia shows em lugares ruins para nós, poucas pessoas nos assistiam. Nossa banda estava caindo o nível. Josh, o baterista, resolveu assaltar um banco e com esse dinheiro contratar uma pessoa melhor, uma pessoa com que pudéssemos confiar e nós colocar lá em cima.
      Nem todos gostaram da idéia. Uma dessas pessoas foi Mare. Ela não queria que eu me envolvesse com esse tipo de coisa, mas eu não conseguia pensar em nada a não ser no dinheiro que iríamos conseguir se tudo desse certo.
      Ela tentou me segurar, mas minha brutalidade foi maior e eu a empurrei contra o sofá para que ela me soltasse e me deixasse ir.
      Josh explicou o plano para mim e mais 3 pessoas. Tudo estava pronto e já estávamos nos preparando para agir.
      O assalto demoraria por volta de uma semana se tudo não saísse fora do controle. Não querias machucar ninguém, só queríamos o dinheiro e sair logo de lá e aproveitar a vida.
      Chegou a hora. Josh Iria entrar e fazer todos se renderem. Joe, o vocalista, entraria no banco como um cliente qualquer e se renderia com outras pessoas que estariam no banco. Eu e mais 2 pessoas íamos entrar depois de Josh para que ninguém percebesse. Antes de trancarmos a porta do banco. Assim ninguém entrava e nem saia.
       Assim que tudo começou, trancamos a porta e cobrimos todas as câmeras.O plano estava saindo como planejado, não havia ocorrido nenhum erro. Para que ninguém depois de 2 horas e meia, estávamos cansado, tudo tinha que ser feito o mais rápido possível. Haviam muitos policiais lá fora cercando o banco.
      Conseguimos invadir o cofre. Fizemos um buraco em baixo do carpete que havia dentro do cofre e colocamos nossas roupas lá dentro e Joe ficou lá dentro. Fechamos o buraco sem levar uma nota do dinheiro que havia lá.
      Fechamos o cofre e nos trancamos dentro de uma sala que tinha no corredor  de atendimento ao cliente.
      5 minutos depois, a policia deu o aviso que iriam invadir o local e que era para todos permanecerem deitados para que não acontecesse nada de grave.
      A policia invadiu  abrindo a porta com uma bomba explosiva. Entraram gritando, agitando todos os que estavam dentro do banco e também aqueles que estavam  do lado de fora do banco preocupados com as pessoas de dentro.
      No final tudo deu certo. Falamos que os assaltantes nos trancaram dentro daquela sala e não os vimos mais.
      Passou-se uma semana, era o dia em que Joe sairia do cofre com todo o dinheiro que precisávamos.
      A policia não desconfiou de nós porque para eles, Joe era apenas um cliente, ele não estava com os assaltantes, que éramos nós. Entramos e saímos ilesos. Agora só faltava finalizar o plano, mas essa era a parte em que devíamos confiar em Joe.
      A policia ainda estava tentando solucionar o caso.Assaltantes entraram e saíram do banco, ficaram por mais de 2 horas e meia lá dentro, invadiram o cofre e não levaram nada. Acharam estranho, mas não tinha explicação alguma para este caso.
      Joe pegou suas coisas, o dinheiro, saiu do cofre exatamente no horário combinado, 3 horas e 15 minutos da madrugada.
      Estávamos no carro do lado de fora esperando Joe sair com o dinheiro para que nós pudéssemos voltar para casa como se nada tivesse acontecido.
      Joe havia pego a chave do banco antes de entrar no buraco para que pudesse sair depois.
      Quando ele abriu a porta do banco, ficamos felizes em vê-lo e saímos do carro para ajudá-lo com os dois sacos grandes de dinheiro. Entramos no carro e fomos embora.
      Joe percebeu que tinha algo errado, mas não conseguia lembrar o que era. Ficamos muito preocupados, nada podia ter dado errado, estávamos com o dinheiro, ninguém nos notou, ele havia usado mascara para sair, ninguém poderia ter o notado.
      Ele deu um grito e disse:
     - Me desculpem, eu não havia percebido isso quando estava lá. Eu deve eu deveria ter verificado mais antes de ter saído de lá. Me desculpem mesmo.
      - o que foi que aconteceu Joe? Perguntei desesperado.
      - Esqueci o celular lá. Se tocar, é perigoso eles perceberem e abrirem para ver o que. Tem meu nome no celular, meu numero de casa, minhas fotos, gravações.
      Josh ficou desesperado, começou a colocar a mão na cabeça, não sabia mais o que fazer. Ele deu um soco no volante e disse:
      -Vamos voltar e pegar.
     Achamos aquilo uma loucura, mas não queríamos perder tudo o que já tínhamos conseguido.
      Voltamos. Joe entrou correndo no banco. Resolvi entrar também para dar cobertura a ele.
     Comecei a pensar em Mare e não percebi que a policia estava vindo. Quando me dei conta, ela estava perto de mais. Corri e gritei pelo Joe, ele veio correndo e eu fiquei olhando pra ver se não tinha esquecido nada outra vez.
      A policia agiu rápido e me jogaram no chão com uma força imensa. Dois deles me seguraram com muita força e outro me algemou.
     Joe entrou no carro rapidamente e Josh acelerou o carro como nunca avia acelerado antes.
      Fui preso e Mare foi me visitar na prisão. Aquilo para mim foi uma cena inesquecível. Ela começou a me xingar dizendo que eu era um irresponsável, que não deveria ter feito isso que fiz.
      Ela saiu muito brava, magoada, chorando, desesperada. Realmente, eu era um irresponsável. Até hoje penso como seria se tudo tivesse dado certo daquele momento em diante. Me arrependo de ter sido imaturo.
     Mare saiu da prisão com seu carro, chorando muito. Ela estava distraída e não viu que estava passando pelo semáforo fechado. Um caminhão veio rapidamente em sua direção e não conseguiu parar.
      Não pude ir em seu velório. Eu queria muito ter ido. Todos da banda e a família dela estavam lá.
     Sentei-me no canto da cela onde estava e comecei a chorar. Não sabia mais o que seria de mim sem ela.
      Passaram-se anos. Fui visitar o tumulo de Mare. Eu já não estava mais tão mal como estava quando Mare faleceu, pois ela havia me deixado muito mais do que boas lembranças, ela havia me deixando um filho, um lindo filho com que eu me orgulho muito de ter tido e nunca mais irei cometer um erro como este que cometi.
      Nós não somos perfeitos, mas nem por isso, devemos agir como pessoas tolas, sem pensar mais que duas vezes antes de fazer algo. Isso foi apenas uma de varias coisas que aprendi com Mare, a mulher por quem me apaixonei.

Um lugar especial


     As vezes nós achamos que aquela sua amizade não ajudará em nada, não terá futuro, não valerá a pena continuar sendo amigo daquela pessoa e que ela será inútil na maioria das vezes em que você precisar de alguém.
      Eu pensava assim. Para mim, todas as pessoas eram inúteis e continuariam sendo inúteis, mas uma pessoa mudou minha vida e minha mentalidade.
      Hoje agradeço muito a ela por ter aparecido em minha vida. Ela foi a pessoa mais especial de todas para mim.
      Sempre fui excluído de todos, mas não era porque eles me excluíam, e sim porque eu mesmo acabava me distanciando das pessoas para que não tivesse nenhum tipo de amizade.
      As pessoas do colégio zombavam de mim. Me colocavam muitos apelidos. O mais conhecido de todos era ET Valdo. Nunca gostei dos apelidos. Muito menos este.
      Depois das férias de julho, entrou dois alunos novos, uma menina e um menino. O menino se chamava Guilherme e a menina se chamava Camila.
      Como sempre, não queria me juntar a eles, não queria conversar com eles, não queria fazer amizade com eles. Achei que iria sofrer no futuro.
      Já tive amigos. Muitos amigos. Era muito bom quando combinávamos de sairmos juntos, de dormir um na casa do outro, jogar videogame, jogar bola, viajar, ir às festas, mas todos eles me decepcionaram. Depois disso, prometi a mim mesmo que nunca mais faria amizade com outras pessoas. Não queira sofrer mais do que já havia sofrido.
      Tivemos que fazer um trabalho em grupo e eu não gostava de fazer trabalho em grupo porque sabia que as pessoas deixariam tudo em minhas mãos e ficariam brincando.
      O professor me colocou com os alunos novos, eu odiei. Eu nem os conhecia e teria que fazer grupo com eles.
      Quando acabou a aula, esperei todos saírem da sala e fui até a mesa do professor para conversar sobre os grupos com ele.
       - Professor Marcos.
       - Sim Billie
       - Eu queria saber se podia trocar de grupo. Ele fez cara de quem não gostou e perguntou:
      - Por qual motivo seria?
      - Eu não os conheço direito professor.
      -Assim que fazemos amizades Billie. Você vai se acostumar, você vai ver.
     Guilherme, Camila e eu combinamos de sair para se conhecer melhor para que pudéssemos fazer o trabalho com mais facilidade.
     Depois que os conheci, fiquei muito feliz por ter amigos novos mas continuava com medo de que eles me fizessem sofrer depois, mas minha mãe me disse que eu tinha que parar de pensar assim, porque nem sempre teremos nossa família para nos ajudar. Nessas horas, só os amigos nos farão bem.
      Passaram-se três meses. Guilherme havia saído da escola porque tinha se mudado. Eu e a Camila estávamos super amigos. Ela sempre estava comigo e eu testando sua paciência.
      Todos os dias depois da aula, nós íamos para minha casa e depois para um campo grande, cheio de flores, arvores, animais, com um cheiro agradável, sem poluição, longe da cidade.
       Aquele lugar era o lugar mais legal que eu já tinha ido. Ele era um lugar muito especial para mim e para Camila.
       Minha felicidade dependia dela. Ela era tudo pra mim. Uma pessoa que era muito mais que minha amiga, uma irmã para mim.
       Depois de um ano que meio que nos conhecíamos, comecei a gostar dela. Sentia um sentimento muito forte por ela.
      Me declarei a ela quando estávamos voltado do colégio. Ela não havia falado uma palavra se quer. Meu coração estava me dizendo que era melhor eu desistir, mas não queria desistir antes de saber sua resposta.
      Já estávamos indo para o campo passar a tarde lá, e ela ainda não tinha comentado nada sobre o que eu havia lhe dito.
      Então perguntei a ela:
      -Você não vai me dizer nada sobre o que te disse hoje?
      -Me desculpe não ter te falado nada. Estou um pouco confusa.
      - Tudo bem, eu espero.
      - Obrigado por entender meus sentimentos.
      - Sem problema. Dei um sorriso e continuei a andar.
      No final da tarde, ela me deu um abraço e disse:
      - Você é meu melhor amigo, sempre foi e sempre será. Eu te amo.
      Meu coração bateu forte, minha mente se desligou do mundo. Não sabia o que dizer e nem o que fazer.
      Olhei para ela e disse:
      -Eu te amo.
      Duas semanas depois, Camila faltou um dia do colégio e não me disse que iria faltar. Fiquei preocupado e liguei para ela depois da aula. Sua mãe foi quem atendeu e disse que ela estava no campo, ia me fazer uma surpresa.
      Troquei de roupa na mesma hora e sai correndo para lá sem comer nada e sem avisar ninguém.
      Ela não estava lá. Passei horas esperando por ela, e nada. Fiquei preocupado. Sem saber o que fazer, fui para casa.
      No dia seguinte, minha mãe me acordou. Ela estava chorando muito. Perguntei a ela o que havia acontecido, ela me respondeu baixinho.
      - Camila sofreu um acidente.
      Olhei para minha mãe, comecei a chorar. Não acreditando no que ela tinha dito, sai correndo de casa para a casa de Camila.
      Quando cheguei à sua casa, havia muitos carros em frente. Seus pais estavam na porta, chorando.
      - O que aconteceu? Perguntei aos pais dela.
      - Camila sofreu um acidente. Foi atropelada quando estava indo até o campo.
     Meu peito doía. Sentia uma grande estaca de prata em meu peito. Não sabia o que falar, sai correndo desesperado gritando.
      Mesmo sabendo que nunca mais poderia vê-la, eu sentia que ela ainda estava ali, naquele grande campo verde, com lindas flores, um ar extremamente puro, com um suave som dos pássaros que ali estavam. Ela estava ali, sentada na grama ao meu lado, sorrindo para a paisagem.

Amo eterno


     A dor nem sempre significa uma coisa ruim, às vezes, essa dor pode ser de algo que você errou algo que você fez sabendo que ia te machucar, mas achou melhor fazer porque pensou que te faria bem no final. Não podemos arriscar nossa felicidade em coisas que se pensarmos melhor, descobriremos que no final não vai dar certo, que no final você vai se magoar, vai se ferir, vai se arrepender de tudo.
     Minha dor que senti há muito tempo atrás, foi por causa de uma garota, uma linda garota que conhecia dês de pequeno.
     Meu nome é Harry. Quando tinha quatro anos, minha mãe me apresentou a uma garota chamada Mary. Ela era muito linda. Para mim, aquela garota era a mais legal de todas que já havia conhecido. Ela tinha olhos claros, cabelo comprido e liso, sua boca era perfeita para todos que a observava, ela era do tamanho normal para uma garota de sua idade e tinha um belo sorriso.
      Quando o vento batia em seu rosto, ela fechava seus olhos suavemente, fazendo com que todos que olhassem se apaixonasse.
      Minha mãe e a mãe de Mary trabalhavam em uma livraria. Elas se conheciam dês de pequenas, assim como meu pai e o pai de Mary.
      Eles saíam muito juntos. Viajavam, faziam festas, comemoravam a passagem de ano em uma casa na praia que haviam comprado todos juntos para passarem as férias e final de ano, comemoravam o natal, aniversario de alguém, de domingos faziam churrasco em uma chácara que ficava muito longe de casa, e etc.
      Mary e eu sempre fomos melhores amigos. Ela sempre foi muito legal comigo e eu com ela. Nós nunca brigamos nem mesmo por um brinquedo como todas as crianças acabam brigando.
      Nós sempre estudamos na mesma escola, e em todos os nós caiamos na mesma sala. Muitas pessoas falavam que daríamos um ótimo casal quando tivéssemos idade certa para namorar, noivar e se casar. Claro, eu não falava que não, mas também não falava que sim.
      Quando estávamos na quarta série, eu percebi que estava apaixonado por Mary. Eu contei para meu amigo, o Rafael. Eu contava tudo para ele.
      Quando eu contei a ele, ele olhou para mim com cara de quem queria falar ‘ você é louco, você nunca ira conseguir se declarar para Mary. Você é um inútil’.
      Sempre quando chegam essas horas, nós não sabemos como agir depois de ver a reação da pessoa com quem você conversou.
     Minha vontade era de ter super poderes para ler a mente do Rafael. Ele parecia estar muito espantando. Poderia estar pensando coisas ruins sobre mim.
      Ele me respondeu:
      -Então acho melhor você se declarar para ela. Ante que outra pessoa faça isso e ela aceite.
      Eu pensei bem em todas as palavras que Rafael havia dito para mim. Eu estava muito confuso sobre o que eu estava sentindo. Ela sempre foi a única garota que se importou comigo, que foi minha amiga de verdade.
      Eu achei melhor falar com meus pais antes de tomar qualquer atitude. Eu tentava imaginar o que eles iam falar, mas não vinha nada em minha cabeça que não fosse como Mary era linda.
      Abri a porta de meu quarto de meus pais, olhei para minha mãe que estava deitada em sua cama assistindo TV. Ouvi barulho da torneira aberta  que tinha no banheiro do quarto dos meus pais. Meus olhos seguiram o barulho atentamente dirigindo-se ao banheiro que estava com a porta semi-aberta. Meu pai abriu a porta até bater em um cesto de roupas sujas que ficava atrás da porta do banheiro e saiu esfregando uma toalha em suas mãos para secá-las.
      Meus pais ficaram me olhando de cima baixo. Minha mãe fez uma cara de brava e ficou me encarando por alguns segundo. Eu pensei que ela fosse ficar muito brava porque eu tinha ficado parado na porta sem palavras a dizer.
       Ela apontou o dedo indicador para meus pés, fechou seus olhos e me perguntou:
      - Quantas vezes vou ter que dizer que você não pode ficar andando pela casa com seus pés descalços no chão gelado?
      Olhei para meus pés, olhei para ela, olhei para o meu pai, abaixei a cabeça e disse:
     - Me desculpe. Eu queria conversar com vocês sobre um assunto muito importante e esqueci de calçar o chinelo.
     Minha mãe fez uma cara de quem estava com dó e deu sinal com suas mãos para que eu subisse na cama ao seu lado e contasse para ela o que tinha acontecido comigo para estar falando aquilo.
     Sentei-me ao seu lado e comei a falar por todas as coisas que estava passando. Todos os meus problemas. Contei que achava que estava gostando de Mary, mas não sabia se contava para ela ou deixava isso de lado.
      Minha mãe ficou paralisada por um tempo. Depois de pensar por alguns segundo, virou se para mim, me abraçou e falou:
      -Parabéns. Muitos de sua idade não teriam coragem de chegar em seus pais e dizer tudo que estava sentindo. Muitos pediriam conselhos para seus pais, depois de pedir para todos e depois de fracassar, depois de se humilharem, depois de cometerem um grande erro.
       -Mãe. Gostaria de te fazer uma pergunta. Perguntei baixinho em seu ouvido enquanto nós nos abraçávamos.
       -Diga meu filho.
       -Posso pedir Mary em namoro?
       Minha mãe afastou seu corpo de mim, colocou suas mãos sobre meus ombros e disse:
      - Sei que você gosta dela. Gosta muito dela, mas você não esta na idade de namorar ainda.
      Eu aceitei o seu conselho e não a desobedeci. Mesmo tendo onze anos, sabia que se eu fosse obediente, um dia poderia pedi-la em namoro e viver feliz ao seu lado.
      Quando completei dezesseis anos, continuava na mesma sala que Mary. Nós ainda éramos melhores amigos, mas eu nunca havia me declarado para ela.
      Eu pensava muito em contar tudo pra ela logo de uma vez. Dizer o que eu realmente sentia por ela, mas não tinha coragem. Tinha medo de que ela dissesse não e nossa amizade não seria a mesma por um tempo sem fim.
      Nós marcamos com uns amigos de ir à uma pizzaria para se divertir um pouco. Fazia bastante tempo que nós não saiamos para nos divertir.
      Eu me arrumei bem para ir à pizzaria. Não queria que ela me visse mal vestido. Queria realmente impressioná-la e tentar dizer tudo o que sentia por ela.
     Fiquei de buscá-la em sua casa. Não queria que ela fosse sozinha a noite. Fiquei com medo que algo a acontecesse a ela.
     Ela estava muito elegante naquela noite.
     Com essa idade eu não podia dirigir, mas meu pai confiava em mim e sabia que eu era muito responsável com minhas coisas e principalmente com as coisas de outras pessoas. Então ele me emprestava o carro.
     Quando ela abriu o portão de sua casa, desci do carro, dei a volta, e abri a porta do carro para que ela entrasse.
     Ela me disse suavemente com sua voz doce:
    - Boa noite
      -Boa noite. Respondi curvando a cabeça como um modo comprimento.
      Ela sorriu para mim e curvou levemente sua cabeça retribuindo meu modo de cumprimentá-la.
      Liguei o carro e sai. Durante o caminho fomos conversando sobre nossos pais, nossos amigos, como foi nosso dia, etc. O caminho para a pizzaria era longo.
     Quando chegamos à pizzaria, nossos amigos estavam nos esperando. Só faltávamos nós.
      Ficamos até tarde comendo e conversando. Foi muito divertido. Era muito bom estar ali, ao lado de Mary se divertindo.
      Quando nossos amigos começaram a ir embora, eu e Mary fomos para fora da pizzaria para deixar os casais a sós.
     Começamos a conversar. Eu olhava para Mary como se ela fosse uma belíssima obra de arte. Eu ficava completamente encantando com o seu modo de agir, com seu modo de sorrir para mim. Ela era a mais linda de todas as garotas que já tinha visto em minha vida. Eu estava completamente apaixonado por ela.
      Ela pegou e minha mão e falou:
      -Estou apaixonada.
      Olhei assustado para ela e apertei firmemente sua mão.
      - Quem é o sortudo? Perguntei a ela.
      - Não se assuste e nem me ache uma boba.
      - Tudo bem. Respondi lhe dando um sorriso amoroso.
      Ela abaixou a cabeça e pensei: ‘consegui conquistá-la’
      -É o Rafael
      Meu coração disparou de repente. Achei que meu coração ia sair pela garganta. Fiquei com vontade de chorar, mas não queria chorar na frente dela. Não pensei que algum dia ela poderia se apaixonar pelo Rafael. Justo ele. Meu melhor amigo. Pensei em muitas coisas inimagináveis para uma pessoa que não sabe o que é amar uma pessoa de verdade e saber que ela esta apaixonada por seu melhor amigo.
      Eu abracei a ela. Um abraço intenso.
      - Me desculpe por isso. Falei a ela.
      - Você nunca me abraçou assim.
      -É eu sei. Desculpe-me
      -Não precisa se desculpar. Eu gostei. Muito
      Dei um sorriso e segurei sua mão. Assim como havia feito comigo.
      -Preciso te contar uma coisa. Falei baixinho
      -Pode falar.
      Ela sorriu para mim e eu fiquei sem graça, com vergonha. Não sabia ao certo se falava a verdade ou inventava alguma coisa. Fiquei um pouco pensativo e falei desesperadamente:
      -Mary, desculpe-me não falar antes, mas eu te amo. Eu não queria te falar porque não queria que nossa amizade mudasse. Gosto de você dês de quando éramos pequenos. Me desculpe.
      Abaixei a cabeça. Não sabia como agir. Não sabia se falava mais ou se permanecia calado.
      Ela começou a chorar. Eu não sabia porque ela estava chorando. Pensei que ela estava chateada comigo por ter falado.
      - Você não tem que me pedir desculpas.
      - Eu não sei o que fazer sem você agora que esta apaixonada pelo Rafael.
      -Não se preocupe nossa amizade ainda será a mesma.
      Puxei suas mãos e abracei a outra vez.
      O abraço dela era muito bom. Me sentia seguro quando abraçava Mary. Ela me trazia confiança a mim mesmo.
      Ficamos bastante tempo abraçados. Ela continuava chorando e eu sem saber o que falar para ela.
      -É, acho melhor a gente ir embora. Esta muito tarde. Disse a ela enquanto nós nos abraçávamos.
     -Tudo bem. Disse Mary.
      Demoramos bastante para chegar à casa de Mary. Não falamos nada durante o caminho.
      Eu queria saber o que ela estava pensando sobre mim. Ela deve ter me achado muito diferente, estranho, um tolo absurdo.
      - Me diverti muito hoje. Falou olhando para fora do carro através do vidro.
      - Eu também. Respondi a ela com uma risada.
      Chegando à casa de Mary, parei bem em frente de seu portão e desliguei o carro para que ela não achasse que estava com pressa.
     - Obrigada Harry.
     - Eu é que agradeço Mary. Me desculpe por hoje
     -Não tem problema. Fiquei tranqüilo. Sorriu para mim por alguns segundos e foi parando aos poucos. Ficou olhando profundamente em meus olhos. Não sabia o que dizer a ela e nem se fazia algo.
      Meu coração acelerou, começou a ficar cada vez mais forte. Não sabia o que era aquilo que estava sentindo. Era muito forte. Era um sentimento muito mais forte do que eu poderia agüentar.
      Coloquei minha mão em seu rosto e a beijei. Eu me senti culpado, senti que estava errado, mas não queria parar.
      Consegui me controlar e parei. Ela abriu seus olhos lentamente. Ficou me olhando por alguns segundos e me beijou.
      Eu estava confuso. Não sabia se continuava ou se parava.
      Aquele beijo foi ainda melhor que da primeira vez. Um beijo calmo e de longo tempo.
      Ela foi parando aos poucos. Tirou sua mão de meu rosto e começou a chorar.
      - Me desculpe. Não deveria ter feito isso. Boa noite.
      Não a respondi e deixei-a ir.
      Depois de tudo que aconteceu, não conseguia dormir de jeito nenhum. Não conseguia parar de pensar nela. Eu estava muito confuso, não sabia o que fazer, para quem falar, com quem conversar.
      Fiquei assim a semanas. Mary e eu ficamos sem nos falar por varias semanas. Pensei que ela estava arrasada comigo, que não queria mais me ver.
      Quando se passou um mês, decidi ir até a casa dela para ver como ela estava. Minha mãe havia me dito que nem a mãe de Mary estava indo trabalhar. Fiquei muito preocupado com ela e fui vê-la.
       Chegando lá, toquei o interfone. Ninguém atendeu. Toquei varias vezes e nada. Fiquei esperando até que alguém aparecesse.
      Três horas depois, Mary apareceu. Sai correndo do carro para falar com ela.
      -Mary. Gritei.
      - Harry. Respondeu.
      - Tudo bem com você?
      - Tudo sim, e com você? Perguntou sorrindo.
      -Estou bem. Há quanto tempo.
     - Me desculpe. Minha mãe está doente, então estou cuidando dela.
      Continuamos conversando por alguns minutos. Me despedi e fui embora. Estava disposto a fazer qualquer coisa para que ela me amasse do jeito que eu a amava.
      Dois anos se passaram. Já tinha completado dezoito anos. Já tinha meu carro próprio e tinha começado a fazer faculdade.
     Mary e eu continuávamos amigos, mas nós nunca tocamos no assunto de termos nos beijado na pizzaria e ela nem comentava mais nada sobre gostar do Rafael.
     Mary e eu marcamos de ir a um parque de diversões em um sábado e no domingo íamos para um cinema ver um filme que tinha lançado a pouco tempo.
     O passeio no parque foi muito bom. Nos divertimos bastante. Ganhei vários brindes em barraquinhas e dei a ela um ursinho de pelúcia. Ela gostou muito.
     O passeio ao cinema, foi mais confuso do que o dia em que fomos a pizzaria.
     Cutuquei Mary e disse:
     -Veja Mary, ali tem um lugar.
     -Vamos nos sentar ali então. Respondeu ela.
     Durante o filme, ela segurou e minha mão. Segurei firme a mão dela para mostrar coragem e assim tentar impressioná-la.
     Ela deitou sua cabeça em meu ombro. Não sabia o que fazer, então fiquei parado, duro igual a uma pedra.
     Eu sabia que já havia tentado, mas estava disposto a tentar mais uma vez. Pela ultima vez.
     -Mary. Quer namorar comigo?
     Mary ficou pensativa.
     -sim Harry.
     Fiquei muito feliz quando ela me respondeu. Eu a beijei, meu coração acelerou mais que o normal. Senti que aquele era um beijo de amor verdadeiro.
     Faziam três anos que nós estávamos juntos. Foram os três anos mais felizes da minha vida. Eu sempre dizia a ela que ainda não conseguia acreditar que nós estávamos juntos depois de tanto tempo gostando dela.
    Uma semana depois de completar três anos de namoro, ela me ligou dizendo que tinha que viajar no dia seguinte. Perguntei se podia ir junto, mas ela disse que não dava tempo porque ela sairia cinco horas da madrugada para pegar o avião para o Japão. Seu avô estava precisando dela e de sua mãe.
      Ela não sabia quanto tempo ficaria por lá, então ela me ligaria todos os dias.
      Eu a amava de mais e precisava vê-la pela ultima vez antes de levantar vôo. Então fui até o aeroporto antes dela ir embora.
      Quando a vi, ela já estava se preparando para entrar no avião. Corri gritando seu nome. Ela olhou assustada para mim.
      - Precisava te ver mais uma vez. Disse a ela com meus olhos cheios de lagrimas.
      - Não queria que você acordasse cedo só para vir falar comigo.
      -Você é a pessoa mais importante que existe para mim.
      Dei um abraço forte nela. Ela me apertava mais e mais. A única coisa que eu queria, era que este momento durasse para sempre, mas nem sempre as coisas são o que queremos que seja.
      Ela partiu. Senti um vazio dentro de mim. Não sabia quanto tempo ficaria sem vê-la. Poderia durar semanas, meses.
      Passaram-se duas semanas. Ela me ligava todos os dias. Ela estava gostando muito do Japão. Ela amava o frio. Seu avô estava muito ruim. Estava precisando muito dela.
      Ela continuava sem saber até quando ficaria no Japão. Eu precisava muito vê-la, abraçá-la, sentir o seu cheiro, sentir sua pele lisa e macia, sentir sua respiração, ver seu sorriso, sentir o calor de seu corpo, olhar em teus olhos e dizer: ‘amo você’
      Com o passar do tempo, nós pouco nos falava pelo telefone. Ela não me ligava mais e quando eu ligava, ninguém atendia.
       Ela me ligou no final da tarde de uma quinta dizendo que voltava no dia seguinte. Eu fiquei muito feliz por isso. Eu iria vê-la novamente, passar um tempo com ela.
     No dia seguinte, liguei no celular de Mary para saber que horas ela chegaria. Ela disse que já havia chego.
     Passei em sua casa para vê-la. Ela não estava em casa, havia saído com alguns amigos.
      Achei estranho ela não ter me falado nada sobre sair com os amigos. Liguei em seu celular, mas ela desligou o celular.
      Pedi a sua mãe que me avisasse quando ela chegasse para que eu pudesse conversar com ela. Eu estava morrendo de saudade de Mary.
     Mary me ligou a noite. Ela estava cansada então conversamos pouco para que ela pudesse dormir.
      Passaram-se algumas semanas que ela havia voltado do Japão. Me sentia estranho em relação a Mary. Ela estava diferente. Não se importava mais comigo, não me contava sobre o seu dia, sempre estava cansada, não me chamava para sair quando ela saia com seus amigos e não atendia minhas ligações.
     Rafael me telefonou em um sábado. Disse que precisava conversar comigo, era urgente. Pedi a ele que viesse em casa para que pudéssemos conversar.
      -Harry. Disse Rafael. Você não tem notado nada de diferente em Mary?
      -Não. Disse a ele. Por quê?
      - Sei que pode não acreditar nisso, mas preciso mesmo te contar.
      -Então fale.
      -Mary esta te traindo.
      Meu coração disparou, meu corpo começou a ficar quente, fiquei parado, igual a uma estatua, olhando para Rafael, sem saber o que dizer a ele.
      Comecei a chorar, ele colocou sua mão sobre meu ombro e disse:
      - Não fique triste. Existem muitas mulheres neste mundo que poderão te fazer feliz.
      Ele abriu a porta de meu quarto e foi embora.
      Fiquei deitado por muitas horas.
      Era uma segunda-feira quando consegui sair da cama, comer normalmente e colocar meus olhos para fora de minha casa.
       Disse a minha mãe que precisava conversar com Mary e que estava indo até sua casa para decidir-se de minha vida.
      Abri o portão da garagem, entrei no carro, dei a partida e sai.
      Meus braços estavam fracos. Meu corpo todo estava lento. Sentia minha cabeça pesada e meus pés tremiam sobre o acelerador.
      Não sabia ao certo o que iria falar a Mary.
      Pensava nos momentos em que havíamos passado juntos. Momentos felizes. Momentos que jamais seriam esquecidos como um momento qualquer com uma pessoa qualquer.
       Para mim, não importava o que ela decidisse, o que ela resolvesse. Nunca deixaria de amá-la. Jamais a esqueceria.
      Meu corpo ia ficando cada vez mais fraco. Não aguentava mais virar o volante. Meu corpo todo estava tremendo e minhas lagrimas caiam em uma rápida velocidade.
      Meus olhos foram se fechando cada vez mais. Meu corpo ia se deitando sobre o volante. Perdi completamente o controle de meu corpo e da direção do carro.
      Pensei forte, como se estivesse gritando para que todos pudessem ouvir: ‘Mary, não se esqueça de mim. Eu sempre te amarei’.
      Meus olhos se fecharam. A escuridão tomou conta de mim. Não pude ver mais nada.

Um amor para a vida toda



     Foi tudo uma ilusão. Eu estava sentado em frente ao meu piano, um piano fino, caríssimo. O lugar onde me fazia feliz, o lugar onde me fazia viajar, encontrando todas as coisas que me faziam sentir bem, o lugar onde me deixava calmo, romântico, gracioso, apreciado por muitos que ali me viam.
      A música é muito mais do que apenas um som feito por algo ou alguém. A música faz parte daquele que à toca. A música é uma forma de se expressar, não importa como você toque-a, ela sempre será um dom que Deus nos deu.
      Eu sentava ali, de frente para meu piano, colocava lentamente minhas mãos sobre ele para que eu pudesse tocá-lo com calma, apreciando o som que eu mesmo estava fazendo.
      Minha vida toda se baseou em meu piano. Eu chegava do trabalho jogando todas minhas coisas diretamente ao chão, sentava na frente do piano e começava tocá-lo. Isso aconteceu durante sete anos.
      Depois de um tempo, conheci uma mulher. Ela era perfeita aos meus olhos. Eu a amava muito. Dedicava todas as minhas musicas a ela. Ela adorava quando eu tocava para ela ouvir.
      Esse amor foi se fortalecendo a cada dia que passava.
      Eu sentia um amor dela por mim também, mas nunca tive coragem de dizê-la que eu amava-a e nem coragem de perguntar a ela se eu teria chances.
      Passaram-se alguns meses. Ela não se sentia muito bem, mas não queria me dizer o que era. Eu não insisti para que ela me dissesse o que estava acontecendo.
      A cada dia que se passava, eu sentia que ela ia se entristecendo mais, e mais, e mais... Ela nunca quis me dizer o que era ela sempre dizia que estava bem, mas eu tinha certeza que algo tinha de errado, até que um dia ela me ligou chorando.
      - Você esta bem? Perguntei a ela.
      - Estou...bem, na verdade eu queria te contar uma coisa, mas eu te peço , de coração, não fique triste comigo. Perdoe-me por não ter te contado antes.
      - Tudo bem, pode me dizer, estou ouvindo e não ficarei bravo com você. Ela começou a chorar mais, não conseguia mais falar.
      - Eu estou doente. Tenho um problema grave no coração e esta doença não tem cura... O único modo de conseguir sobreviver, é por um transplante de coração.
      Eu não sabia o que fazer, não sabia o que dizer, senti um aperto muito forte no meu peito.
      Passei três semanas em casa, sem ter noticias do amor da minha vida, sem sair de casa, ser ter contato com o mundo lá de fora.
      Dois dias depois de ter ido consultar um medico para saber mais sobre a doença, liguei para ela.
      -Oi, sou eu, John. Como você está?
      -Estou piorando – me respondendo com palavras curtas, calmas e baixas.
      - Consegui um transplante para você. Ela começou a chorar, ficou sem palavras a me dizer.
      - De quem é o coração. Ela me perguntou chorando desesperadamente
      - Você saberá depois que tiver certeza que está bem.
      - Tudo bem – me respondeu mais calma.
      - Antes quero tocar uma musica para você.
      Ela veio em minha casa algumas horas antes de irmos ao hospital. Eu toquei a musica que eu mais tocava, a musica que ela mais gostava. Queria que ela se lembrasse daquele momento para sempre.
      No mesmo dia, fomos ao hospital. Chegando lá, pedi para que ela se sentasse que eu iria falar com o Dr. Tonny. Ele me disse que algo havia dado errado e não teria mais como fazer o transplante nela. Se eles fizessem-no, ela poderia correr grandes riscos.
     Quando fui dar a noticia a ela, ela começou a chorar muito. De repente ela caiu no chão e não se moveu mais.  
      Seu coração já tinha dado o que tinha que dar. Ele não ia mais agüentar e eu não estava mais agüentando vê-la naquele estado. Ela teria mais quatro dias de vida, mas não conseguiria fazer mais nada. Ela faleceria deitada em uma cama de hospital.
      Escrevi uma carta a ela e fiz o que tinha que fazer. Deixei a carta em cima do piano e pedi para que o Dr. Tonny entregasse a chave a ela e que não contasse nada a ela do que havia acontecido que um dia ela iria descobrir tudo.
      Depois de alguns dias, ainda sem saber o que havia acontecidoela saiu do hospital e foi para minha casa com a chave que havia pedido para que entregasse a ela.
      Ela abriu a porta, ficou chamando por meu nome e nada ouviu. Foi até a sala onde ficava meu piano e olhou aquele envelope em cima do piano. Era um lindo envelope meio amarelado, com um tom de antiguidade com um selo vermelho segurando uma ponta para mantê-lo fechado.
     Ela abriu o envelope com muito cuidado para que ele não rasgasse. Ela começou a ler.


      “Querida, se você estiver lendo esta carta, é porque tudo ocorreu bem e eu consegui fazer uma coisa certa neste mundo. Você deve estar se perguntando porque eu escrevi uma carta ao invés de te dizer pessoalmente. É, eu não sabia o que fazer, não conseguia vê-la naquele estado, eu tinha que fazer algo e fiz. Eu sou o seu doador. Cuide bem do meu coração, agora ele é seu.
      Nunca tive coragem de te dizer que ‘Eu te amo’...eu sempre te amei, mas todas as vezes que pensava em te dizer isso, eu pensava como você se sentiria com isso. Perdoe-me por não ter te contado isso antes, mas eu realmente queria muito ter falado. Não pense que você me perdeu para sempre, que eu te abandonei, pense que eu sempre estarei com você. Eu te amo... “
                                                                                                                        By: John

quinta-feira, 16 de setembro de 2010

Garota especial.



   
 
      Eu achava que todas as historias tinham um final feliz, mas não consigo explicar se a historia de minha vida teve um final feliz. Tudo que posso dizer é que nem todos os seus planos poderão dar certos.
      Para mim, minha vida era a melhor, ficava em casa jogando jogos em rede, conversando com pessoas pela internet e todas essas coisas de adolescentes, mas minha vida mudou quando conheci uma garota chamada Alice.
      Tudo começou quando estava sentado em um banco do pátio do colégio jogando videogame. Estava muito empolgado para zerar o jogo e começar a jogar outro para sair falando para todas as pessoas do twitter que também jogavam que eu tinha zerado o jogo em menos de quatro dias.
      Senti um perfume se aproximar de mim, senti uma sensação estranha, uma sensação que nunca havia sentido em toda minha vida, minha mente começou a se desligar do mundo, meus dedos começaram a ficar lentos, não conseguia mais apertar o start para pausar o jogo para ver de onde tudo aquilo estava vindo, meu coração disparou, vagarosamente segui o cheiro com meu olhar e vi que tinha uma garota sentada do meu lado. Normalmente eu iria para o lado, saindo de perto dela, ou desviaria o olhar, ou sairia correndo, ou nem mesmo olharia para ela, mas eu perdi completamente a noção do que estava fazendo ali, naquele momento. Minha vontade era de parar o tempo e nunca mais parar de olhar para ela.
       Ela virou rapidamente para mim e ficou me olhando assustada, como se tivesse visto um fantasma. Eu queria falar com ela, mas tinha certeza de que se eu falasse com ela, ela iria me achar um tolo, um CDF ou outra coisa pior. Perdi completamente a noção do que estava fazendo, quando vi, já tinha perguntado seu nome. Ela sorriu para mim e falou baixinho: - Meu nome é Alice, e o seu?
        Gaguejei um pouquinho e respondi.
        - Meu nome é David.
      Aquela foi a melhor sensação que já havia sentido em toda minha vida. Para mim aquilo foi melhor que zerar um jogo em dois dias.
     Quando chegou a noite, eu não conseguia parar de pensar nela, em como ela sorriu para mim, em como ela me respondeu sem me achar um estranho pelas roupas que usava, estilo CDF, com um short preso a um sinto muito apertado, fazendo franzir todo o meu short, com um óculos grosso, com meu cabelo duro feito pedra com tanto gel que passava.
      Acordei às seis da manhã assustado com o despertador tocando ao meu lado em uma mesa cheia de bonecos, carrinhos de metal, cartões de jogos para competição e outras coisas de pessoas que não tem o que fazer durante a tarde depois do colégio.
     Naquela manhã, me sentia diferente, me sentia leve, com meu pensamento ainda naquela garota linda e educada que falou comigo no colégio. A primeira garota que não zombou de mim pelo jeito de me vestir.
     Não sabia nada alem do nome dela, mas só dela ter falado seu nome, já me sentia muito feliz.
    Pela primeira vez na minha vida, vesti uma calça jeans escura que minha mãe havia me dado de presente, coloquei meu cabelo para frente, deixando com franja, coloquei meu boné de aba reta no topo da cabeça entortando-o um pouco para o lado, meu tênis de skatista e a camisa branca do colégio. Não sabia ao certo porque estava fazendo aquilo, mas fiz.
     Peguei meu material e corri para fora de casa entrando rapidamente no carro para que ninguém me visse daquele jeito.
    Chegando ao colégio, sai do carro com a cabeça baixa como sempre havia feito.
    Comecei a ouvir pessoas fazendo comentários sobre mim e levantei a cabeça. Quando olhei as pessoas em volta de mim, todas elas estavam me olhando como se eu fosse algum aluno novo no colégio, Mas eu nem liguei, estava mesmo era preocupado com a Alice, queria saber se ela tinha me visto, se ela havia gostado.
     Entrei para a sala e não via a hora de ir para o intervalo para ver a Alice novamente.
    Quando bateu o sinal para o intervalo, arrumei meu material e sai da sala olhando para todos os lados procurando pela Alice, mas não a vi em lugar nenhum.
    Sentei no mesmo lugar de sempre e fiquei jogando, quando senti seu cheiro passando por mim. Olhei para o lado e lá estava ela novamente, olhando para mim e sorrindo.
    Cumprimentei-a e começamos a conversar.
    Aquela foi a melhor conversa que já tive com qualquer outra pessoa, e nós nem tocamos no assunto de jogos. Achei que ela não gostava então nem falei nada sobre. Até o momento em que ela falou que gostava muito de jogos.
    Naquele momento, achei que ela era uma espécie de ilusão, mas por incrível que pareça ela não era uma ilusão.
     Passou se muito tempo e já estava completando a faculdade de arquitetura. Tinha muitos amigos, mudei meu estilo, não era mais viciado em jogos e estava muito feliz.
     Quando estava no metro voltando da faculdade, tinha uma mulher muito parecida com a Alice, por algum momento achei que fosse ela, mas ela estava com o cabelo escuro. Por curiosidade, perguntei seu nome. Ela me respondeu com uma voz baixa e suave:
      -Meu nome é Alice e o seu?
     Fiquei parado, sem resposta olhando pra seus olhos, meu coração disparou e finalmente consegui responder, gaguejando como da primeira vez.
     -Não sei se lembra de mim, mas já estudei na mesma escola que você.
     Ela sorriu para mim e começamos a conversar. Peguei seu telefone, combinamos de sair.
     Depois de um ano e dois meses que tínhamos voltado a conversar, convidei-a para jantar comigo em um restaurante famoso. Ela aceitou meu convite.
     Quando terminamos de jantar, fiquei olhando para ela, ela ficou olhando pra mim com um olhar meigo, doce, calmo. Peguei em suas mãos que estavam sobre a mesa e falei:
      - Não sei se percebeu, dês da primeira vez em que nos falamos no colégio, eu gostei de você, e agora que voltamos a nos falar, voltei a sentir isso novamente só que muito mais forte...Eu te amo.
      Ela ficou parada por alguns segundos e sorriu. Então eu falei:
      -Quer namorar comigo?
      Ela sorriu com uma lagrima caindo de seus olhos.
     -Sim, eu quero.
     Aquele foi o melhor momento da minha vida, o momento em que me declarei para a única mulher da minha vida, a mulher em que gostaria de acordar todos os dias, olhar para o lado, e ver ela todas as manhãs e poder dizer ‘Eu te amo a cada vez mais’.
     Faziam três anos que estávamos juntos, confesso que foi os três anos mais felizes da minha vida.
    Conversei com meus pais sobre pedir ela em casamento, meus pais aceitaram a idéia e me desejaram boa sorte, felicidades e todas as coisas que afirmam que seus pais realmente gostaram da pessoa com quem você se apaixonou um dia e está disposto a fazer qualquer coisa por ela.
     Comprei o anel para dar a ela, comprei flores e a convidei para um jantar no mesmo restaurante em que a pedi em namoro.
     Eu estava muito nervoso, nunca poderia ter imaginado que um dia eu faria isso diante de alguém, me declarar, pedir em namoro, ter os momentos mais felizes da minha vida ao lado dessa pessoa e de repente pedi-la em casamento, foi uma coisa muito diferente para mim, mas lá estava eu, esperando-a na porta de sua casa para levá-la para o restaurante e finalmente pedi-la em casamento.
     Ela abriu a porta do carro, eu lhe dei um beijo e liguei o carro, sem assunto, de tão nervoso que estava.
    Parei no semáforo vermelho do cruzamento, e comecei conversar com ela sobre seu dia. Ela começou a falar, então a interrompi e falei:
     - Sei que já te disse isso varias vezes, mas desta vez, estou com uma vontade absurda de falar isso, não estou agüentando guardar isso para mim. Eu te amo muito, você se tornou a minha vida, não importa o que aconteça, eu sempre irei te amar.
     Ela olhou para mim e deu um sorriso, aquele mesmo sorriso que me fez me apaixonar por ela.
     -Eu estava esperando para falar isso enquanto jantávamos, não sei por que, mas sinto que devo falar agora. Quer se casar comigo?
     Ela começou a chorar e disse:
     -Claro que quero você é tudo para mim, eu te amo muito também e quero passar o resto da minha vida ao seu lado.
     Eu fiquei muito feliz, pensei que toda minha vida seria ao lado de Alice a partir daquele momento.
     O semáforo abriu, soltei o freio e acelerei lentamente. Aconteceu tudo muito rápido. Vi um ônibus se aproximar rapidamente de mim, com barulhos de sirenes se aproximando, tentei frear, mas o carro começou a derrapar, olhei para Alice e vi que ela estava olhando pra mim com lagrimas no rosto. Ela apertou minha mão que estava  sobre o volante e tudo ficou branco.
     Acordei seis meses depois, em uma cama no hospital, com minha mãe e meu pai do meu lado.
     Eles viram meus olhos se abrindo lentamente e começaram a chorar de felicidade por eu estar bem.
     Olhei para minha mãe, virei bem de vagar para o meu pai e perguntei:
     -O que estou fazendo aqui? Porque estou aqui? Cadê a Alice?
    Minha mãe olhou para mim e começou a chorar. Ela pegou minha mão que estava com os aparelhos médicos. Ela segurou firme minha mão e me contou sobre o acidente e que estava deitado há seis meses e que Alice estava comigo no carro, sofreu ferimentos graves e não conseguiu superar.
    Eu fechei meus olhos e comecei a chorar. Fala comigo mesmo em minha mente:
    -Porque ela, porque ela? Porque não fui em seu lugar? Eu estava disposto a fazer qualquer coisa por ela, eu queria passar minha vida ao seu lado. O que será de mim agora sem ela?
    Chorei desesperadamente por bastante tempo, até dormir.
    Haviam se passado dois meses depois que sai do hospital e ainda não conseguia esquecer a Alice, eu ainda a amava muito, meu coração doía quando me lembrava daquela luz que me veio minutos antes do ônibus bater em nós.
   Estava muito mal, não sabia mais o que fazer da vida, mas sabia que um dia eu ia melhorar. Então olhei para o céu e falei comigo mesmo em minha mente, ‘Alice, mesmo você não estando aqui, do meu lado, posso sentir sua presença em todos os lugares. Você sempre estará dentro de meu coração, sempre irei te amar, não importa o que aconteça. ’
      Então continuei a andar, ainda sentindo uma grande dor no coração, mas sabia que um dia eu voltaria a ser feliz e continuar a vida com uma boa memória, a memória de todos os momentos felizes que passei ao lado de Alice.